Os símbolos da Quaresma- Vamos compreender um pouco mais sobre os principais deles?

Que a Quaresma é um tempo de jejum, oração e esmola, todos nós sabemos. No entanto, para além disso, existem símbolos, gestos e sinais que representam a nossa fé e nos auxiliam a, nesses 40 dias, seguir os passos do Mestre.

Vamos compreender um pouco mais sobre os principais deles?

O JEJUM E A ABSTINÊNCIA
Cristo passou 40 dias e 40 noites no deserto sem alimentar seu corpo. Durante a quaresma, nos é feito o convite de unirmo-nos a Cristo e imitar seus gestos, preparando nosso corpo e nosso espírito para o tempo Pascal.
O jejum quaresmal pode ser compreendido por três perspectivas, sendo a primeira delas a abstinência alimentar, que consiste em privar alimentos na quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão; e a abstinência não alimentar, que consiste em deixar de lado atividades que nos trazem prazer imediato e sem propósito para que esse tempo seja dedicado ao diálogo com Jesus através oração e da conversão.

A segunda perspectiva é o jejum do mundo. Nele deixamos de lado o espírito consumista, as coisas inúteis e supérfluas que não agregam em nada ao nosso espírito. Esse jejum é profundo e espiritual e nos leva à essência do nosso ser.

A terceira perspectiva é o jejum na palavra. Ele nos convida a reconhecer o nosso pertencimento a Deus e a nossa necessidade de viver conforme a palavra de dele. Para isso, ele (o jejum), nos leva à renunciar a nós mesmos para uma vida conforme os ensinamentos do Evangelho.

Quando feito em silêncio e sem grandes gestos por reconhecimento, o jejum é necessário, nos conduz ao controle de nossos impulsos e, junto com a abstinência (alimentar e não alimentar), nos proporciona uma melhor compreensão dos nossos vícios – que são postos a prova no período quaresmal. O jejum é um símbolo da nossa conversão aos valores do Evangelho ensinados por Jesus.

A ESMOLA
A esmola representa a caridade que deve ser praticada por todos nós Cristãos. As obras de caridade abrem o nosso coração para que enxerguemos a dificuldade dos nossos irmãos e os ajudemos a superar suas dificuldades e vulnerabilidades.

Quando olhamos o pobre e o necessitado com a Luz da fé Cristã, compreendemos que através do gesto de caridade para com eles, quem está sendo ajudado é o Filho do Pai, que escolheu vir ao mundo como pobre.
Cristo quis nascer pobre, escolheu seus discípulos entre os pobres, evangelizou os pobres e morreu pelos pobres. Nada mais justo que amemos os pobres como Ele amou.

A caridade não é apenas “dar de comer a quem tem fome”. Caridade é dar remédio a quem está doente; é dar de vestir a quem está nu; é dar amor a quem não é amado.

Sempre que prestarmos auxílio a um irmão necessitado, lembremos que esse auxílio está sendo prestado também a Deus e devemos Lhes ofertar como uma oração. Que possamos pedir a Deus que derrame sobre nós Sua infinita misericórdia e compaixão para que abramos nossos corações ao amor e serviço aos necessitados, assim como nos ensinou Santa Dulce dos Pobres.

A PENITÊNCIA E A CONFISSÃO
A Quaresma é o tempo de conversão, tempo de deixarmos os nossos pecados e nos voltarmos para Cristo. Para alcançar a remissão dos nossos pecados, fazemos a penitência – um meio de purificação da nossa alma.
A igreja oferece aos seus fiéis os chamados “remédios contra o pecado”, aqueles recomendados pelo próprio Jesus no Sermão da Montanha (Mt 6, 1-8): o jejum, a esmola e a oração. Eles são penitências que nos ajudam na busca pela Santidade.

Além dos remédios contra o pecado, o próprio Cristo nos deixou um Sacramento de Penitência: a Confissão (Jo 20, 22). A nossa maior graça é estar livre dos nossos pecados, limpos de consciência e de alma e preparados para ceiar com Cristo e com nossos irmãos.

Os exercícios de piedade e mortificação nos fortalecem no combate contra o pecado: o jejum contra os vícios desordenados, a humildade contra o orgulho, a castidade contra a luxúria, a caridade contra a ganância, ajudar os outros contra a preguiça.

Devemos viver para agradar a Deus e a penitência é o nosso auxílio no caminho para a santidade.

AS CINZAS
As cinzas representam o fim da nossa vida, a verdade de que do pó viemos e ao pó voltaremos (Gn 3, 19). Mostram-nos que somos finitos e que nosso corpo sucumbirá ao tempo.
Os antigos judeus usavam as cinzas sobre seus corpos como forma de arrependimento por seus pecados. A imposição das cinzas marca o início da Quaresma e tem o intuito de nos levar ao arrependimento por nossas faltas.
As cinzas nos recordam também que a nossa morada definitiva é o Céu e que nossa plena felicidade só pode ser construída lá. Por isso não devemos ter a ilusão de que permaneceremos para sempre na Terra. Devemos saber que nossa estadia aqui não é duradoura e que o nosso corpo frágil e finito e que será refeito por Deus para não mais perecer.

A COR LITÚRGICA ROXA
A Quaresma é um tempo de reflexão, penitência e conversão. A cor roxa exprime a introspecção e a contrição, a preparação para o tempo Pascal.
O tempo quaresmal, até certo ponto, é um tempo de tristeza. É o preparo para o sofrimento e Morte de Cristo, para a Paixão do Senhor. O tempo quaresmal também é um tempo de esperança e alegria; a Quaresma é a certeza de que Cristo venceu o mal, o pecado e a morte e nos convida a participar do Seu júbilo. E é pela alegria esperançosa que a cor litúrgica do último domingo da Quaresma é o rosa – mistura do roxo da penitência quaresmal com o branco da alegria da festa Pascal. É a alegria em um período de penitência.

VIA SACRA
A Via Sacra é uma forma de meditar a Paixão de Cristo, percorrendo o caminho até o Calvário, da condenação ao Santo Sepulcro.
A Via Sacra deve ser vivida da maneira sentimental, com a contemplação de um Deus que viveu na carne o sofrimento dos homens e que nos amou do alto da Cruz. Devemos nos comover, portanto, com a dor do irmão.
A Via Sacra também deve ser vivida na espiritualidade, como uma escola de fé, e nós devemos estar abertos aos ensinamentos que Deus quer nos dar. Devemos aprender o verdadeiro sentido do amor que foi sacramentado e legitimado neste caminho percorrido pelo Cristo.
Concede-se indulgência plenária ao fiel que fizer o exercício da Via Sacra, piedosamente. Para ganhar a indulgência plenária, determina-se o seguinte:

1. O piedoso exercício deve-se realizar diante elas estações da Via Sacra, legitimamente eretas.
2. Requerem-se catorze cruzes para erigir a Via Sacra; junto com as cruzes, costuma-se colocar outras tantas imagens ou quadros que representam as estações de Jerusalém.
3. Conforme o costume mais comum, o piedoso exercício consta de catorze leituras devotas, a que se acrescentam algumas orações vocais. Requer-se piedosa meditação só da Paixão e Morte do Senhor, sem ser necessária a consideração do mistério de cada estação.
4. Exige-se o movimento de uma para a outra estação. Mas se a Via Sacra se faz publicamente e não se pode fazer o movimento de todos os presentes ordenadamente, basta que o dirigente se mova para cada uma das estações, enquanto os outros ficam em seus lugares.
5. Os legitimamente impedidos poderão ganhar a indulgência com uma piedosa leitura e meditação da Paixão e Morte do Senhor ao menos por algum tempo, por exemplo, um quarto de hora.
6. Assemelham-se ao piedoso exercício da Via Sacra, também quanto à aquisição da indulgência, outros piedosos exercícios, aprovados pela competente autoridade: neles se fará memória da Paixão e Morte do Senhor, determinando também catorze estações.
7. Entre os orientais, onde não houver uso deste exercício, os Patriarcas poderão determinar, para lucrar esta indulgência, outro piedoso exercício em lembrança da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Texto: João Marcelo Rocha e Nathalia Rocha