“Deus não seria ingênuo em desistir de nós em nosso primeiro tropeço”, diz Padre Osmar na terceira noite do Novenário 2017.
“O que lhes dizer nesta noite, onde o tema sugerido para a nossa reflexão está contido no documento pós-sinodal, amoris laetitia, que fala sobre “O enfraquecimento da fé e da prática religiosa afetam as famílias e as deixam com suas dificuldades”. Meus irmãos e minhas irmãs, nós sabemos que o primeiro elemento que pode nos ajudar verdadeiramente a redescobrir a cada dia, a grandeza do amor de Deus para cada um de nós homens e mulheres de tantas gerações, é justamente a Palavra do Senhor. Por isso, eu acredito que nesta noite não poderia nos faltar a luminosidade da Palavra do Senhor que fora proclamada há alguns instantes atrás.
Fiquei a pensar: verdadeiramente sabemos que a família humana enfrenta muitas dificuldades, sobretudo na vivência da fé e na prática religiosa. Mas, na própria Palavra de Deus nós encontramos a sugestão de como podemos, já neste mundo, vislumbrar a beleza da interferência divina na vida familiar, que não deve se deixar abater pelas dificuldades. Infelizmente temos uma tendência muito forte a deixar sobressair em nossa vida, aquilo que é difícil, aquilo que atrapalha. E nos esquecemos que o próprio Deus ao vir a este mundo de uma maneira tão espetacular, escolhe uma família humana, para trazer em si, em sua divindade, a presença da carne humana, para nos dizer que é possível verdadeiramente transformar a vida familiar, numa vida que seja, sobretudo, sopro divino do próprio Deus.
E é por isso que nós estamos aqui nesta noite, porque nós acreditamos neste amor incondicional, Daquele, que assumindo a nossa natureza, através da carne humana, expressa na carne da Virgem Maria, tão amada, carinhosamente invocada nesta cidade, como Nossa Senhora das Candeias. Aquela que se fez mãe, porque também acredita nos desígnios do Senhor, para se tornar a mãe de uma família abençoada; que se abre aos critérios divinos, para se fazer das práticas religiosas também, o meio de conduzir os passos daquele que é Senhor, Filho de Deus, mas também, gerado no seu ventre. Aquele que vem trazer para cada um de nós a sua presença iluminada.
Dois momentos brotam em meu coração, para uma reflexão. Duas situações trazidas pela Sagrada Escritura, me fazem refletir com vocês a importância de realmente deixar, como disse são Paulo na primeira leitura de hoje, reavivar em nós o Dom de Deus. O Dom que se chama a expressão máxima da nossa confiança nele, que é o exercício da fé cotidiana, sobretudo na vida familiar.
Quero aqui recordar, um episódio bíblico, conhecido demais por cada um de nós. Primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva, um casal abençoado, porque trazia em si, primeiramente a vontade do Criador. Porque trazia em si o projeto que não fora fruto da sua vontade e do seu querer, mas fruto da intervenção divina, que ao lhe soprar, o sopro divino da vida, lhes dá a missão de conduzir a obra criada. Lhes dá condições de ser o primeiro casal, a primeira família abençoada, para produzir os frutos necessários para a nossa salvação sobre esta terra. Mas infelizmente nós sabemos como termina essa história: através de um grande desejo de não escutar o seu Senhor. De não se aproximar da divindade. De não colocar em prática os ensinamentos de Deus, na confiança plena Nele. Colocam em cheque a garantia da vivência de uma vida abençoada no Paraíso. Mas sabemos também que Deus, sendo Ele a fonte da sabedoria, não poderia apostar apenas em Adão e Eva, porque tenha certeza de que o coração humano está sempre inclinado a escutá-lo. Está sempre inclinado a acolher a sua palavra. Está sempre inclinado a fazer sempre a sua vontade.
Não sei se vocês observaram o quanto Deus tem insistido nestes dias, na liturgia da Palavra, que é necessário buscar, fazer com prazer a vontade dele. E talvez seja por isso que as nossas famílias tem enfrentado tantas dificuldades. Sobretudo no quesito da fé. Deus não seria ingênuo em desistir de nós em nosso primeiro tropeço. Adão e Eva tropeçam porque que fecham o coração à Deus. E eu tenho certeza que aqui nesta Praça, como Igreja do Senhor, nos encontramos porque temos consciência dos nossos tropeços na vida familiar, mas também, temos consciência do nosso desejo de acertar, porque nós escutamos o nosso Deus. Porque nós nos abrimos ao nosso Deus. Porque nós queremos escrever uma história diferente, que não seja marcada puramente pela dúvida de Adão e Eva. Pelo seu desejo de querer avançar à frente do seu Senhor. Pelo seu desejo de falta de dependência de Deus. O que é uma grande loucura, porque já está provado na história: todas as vezes que o humano se afasta de Deus, ele não consegue ir muito longe. Todas as vezes que o humano se afasta de Deus ele não consegue buscar viver com prazer, de maneira devotamente ofertando o seu coração para que a vontade do Criador se manifeste em nós.
Outro momento contrário às dúvidas, as incertezas, ao fechamento do coração de Adão e Eva, a primeira família abençoada que rejeita inicialmente o seu Senhor, nós encontramos diferentemente do novo, mas, no velho, naquilo que aparentemente seria impossível vislumbrar a manifestação do querer de Deus: Abrão e a sua mulher, Sara. Não duvidam. Não se afastam das práticas religiosas. Abrem-se literalmente à vontade de Deus, inclusive deixando de lado uma vida construída. Não por dúvidas e incertezas, mas pela convicção de que não estão apostando numa loteria. Mas porque estão buscando fazer visivelmente a vontade do Senhor. Deixam a sua terra, ofertam o seu púnico filho, manifestam o desejo de caminharem itinerantemente para onde o Senhor lhes mostra; para que, nesta nova realidade, a família humana encontre a segurança do seu Senhor e a manifestação visível, de que, se estamos longe da fé, podemos sucumbir. Mas se nos aproximamos como família de Deus, deixamos não as dificuldades ditarem as normas para a nossa vida, mas permitimos que a vontade do Senhor, de vida plena e felicidade para as nossas famílias, se manifeste de uma maneira verdadeira. E não poderíamos deixar de recordar aqui, a Sagrada Família de Nazaré. Por isso, neste momento, podemos nos voltar para imagem daquela que carinhosamente invocamos como a Mãe das Candeias, que traz o seu filho ao colo e que traz também, não só o seu filho, mas traz também ao seu colo cada um de nós que aqui estamos. Cada uma das nossas famílias, e em especial, as famílias que infelizmente estão se esquecendo da necessidade de redobrar e de recuperar o dom de Deus, que reside em cada um de nós.
Peçamos:
Ó Virgem Mãe das Candeias, nós vos rogamos, acolhe os nossos pedidos nesta noite do vosso Novenário. A nossa súplica. Que não deixe as nossas famílias se perderem. Que não deixe as nossas famílias se esquecerem do Dom de Deus. Que não deixe as nossas famílias se afastarem do caminho da fé. Que não deixe as nossas famílias sucumbirem pelas dificuldades. Mas, pela vossa presença entre nós, trazendo Aquele que É a Luz, nos ilumina e mostra cada vez mais destemidos, trabalhadores da messe do teu filho, para que, como vossa família, possamos juntos, reavivar o Dom de Deus, que reside em cada um de nós. Amém”.
Cônego Osmar Freire Monteiro (Diocese de Camaçari)
Pascom – Santuário Nossa Senhora das Candeias